Porque a poesia é de esquerda, porra!

Rafael Presto
2 min readJul 17, 2020

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[conto-poesia]

Frame do videoclipe “No Church In The Wild

Meus inimigos só podem planejar um futuro feito de genocídio e aniquilação porque a poesia não é submissa a esse tipo de sonho fascista. A utopia neopentecostal miliciana será sempre tosca, rebaixada, superficial — passional da pior forma possível — porque dela escapam a complexidade do pensamento profundo, o sublime do bote de tigre da arte com seus delírios. Até da Bíblia subtraem a metáfora, propondo uma leitura das sagradas escrituras literal, interpretada de maneira seca, vingativa, sanguinária, longe do manto do lirismo e seus assombrosas proféticos que antes recheavam cada salmo, prédica, oração. Porque a alma de um poeta sangra diante da miséria, grita de ódio diante da fome, deseja ardorosamente um amanhã feito de igualdade, potência e delicadeza, coisa que essa gente escrota só não entende, como despreza, cultiva rancor, deseja o total apagamento. Até reacionários incríveis como Borges, Nelson, Dostoiévski, são lançados na fogueira nesse rolo compressor pilotado por uma trupe de idiotas violentos, uma gente que odeia a beleza, a humanidade, o amor, palavras que antes soariam completamente bregas, retiradas de um folhetim melodramático de mal gosto, mas que agora, nesses tempos completamente absurdos e excessivos, precisam ser defendidas com unhas e dentes — correm o risco de extinção, da completa subversão do seu sentido. Mas eles não passarão, porque nós passarinho! Temos a resiliência secreta dos grandes versos de amor e luta que nos precederam. A sabedoria antiga dos contadores de histórias dos povos ancestrais, infinitos e fortes. O sussurro das grandes peças, dos grandes romances, das grandes poesias, de todo o arsenal artístico cultivado com carinho e cuidado ao longo da marcha da humanidade. Porque a poesia é de esquerda, porra! Sonharemos um futuro que não esse projeto rebaixado de humanidade! Lançaremos molotoves e versos até o fim dessa turbulenta noite! Cantaremos nosso desprezo por vocês, meus inimigos, mas acima de tudo cantaremos um amanhã feito de solidariedade, afeto, vida! E faremos poesia! Porque esses canalhas não suportam a poesia.

17/07/2020

#liberteofuturo

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Rafael Presto

Poeta de insólitos conflitos, amores aflitos e sonhos de revolução. Escritor, dramaturgo e roteirista — operário das letras cultivadas com afeto e despropósito.