Improviso Malcriado
Combinamos de fugir
Antes da próxima primavera
No mesmo dia fatídico
Em que um calendário maia revela
Entre solos de guitarra nunca vistos
A volta de um deus esquecido.
Não se preocupe coração, é tudo exagero:
Nossas ameaças são de festim
E os milagres abandonaram qualquer pôr do sol.
A beleza é mesmo uma coisa sublime
E toda essa cafonada de mau gosto
Às vezes
Me tira o ar.
É difícil de compreender:
Mesmo de quarentena
A poesia não tem tempo pra vida
E corre o risco de morrer todo dia
Balançando em um trem lotado qualquer
Enquanto se dirige pra sua rotina.
Toda gente está infeliz e cheia de normas
Esse tempo é mesmo maluco:
Morrem-se aos montes pelas regras
E já quase ninguém morre de delírio
Enquanto a peste e a fome
São tratadas como questões de achismo.
Meu coração está confuso, em descompasso:
É sempre por um fio
Cada vez com mais esforço
Que renasço
Sinceramente
Não sei se enfrento
Ou se passo.
13/05/2021