Improviso Malcriado

Rafael Presto
1 min readMay 13, 2021

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Combinamos de fugir

Antes da próxima primavera

No mesmo dia fatídico

Em que um calendário maia revela

Entre solos de guitarra nunca vistos

A volta de um deus esquecido.

Não se preocupe coração, é tudo exagero:

Nossas ameaças são de festim

E os milagres abandonaram qualquer pôr do sol.

A beleza é mesmo uma coisa sublime

E toda essa cafonada de mau gosto

Às vezes

Me tira o ar.

É difícil de compreender:

Mesmo de quarentena

A poesia não tem tempo pra vida

E corre o risco de morrer todo dia

Balançando em um trem lotado qualquer

Enquanto se dirige pra sua rotina.

Toda gente está infeliz e cheia de normas

Esse tempo é mesmo maluco:

Morrem-se aos montes pelas regras

E já quase ninguém morre de delírio

Enquanto a peste e a fome

São tratadas como questões de achismo.

Meu coração está confuso, em descompasso:

É sempre por um fio

Cada vez com mais esforço

Que renasço

Sinceramente

Não sei se enfrento

Ou se passo.

13/05/2021

Monolito da Pedra do Sol — Calendário Asteca | Museu Nacional de Antropologia do México

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Rafael Presto

Poeta de insólitos conflitos, amores aflitos e sonhos de revolução. Escritor, dramaturgo e roteirista — operário das letras cultivadas com afeto e despropósito.